28 de mai. de 2017

Mercado, Comercialização e Coeficientes Técnicos na Produção de Leite



Mercado e Comercialização

Mercado de Leite de Derivados

As mudanças do início da década de 90, com a abertura da economia, liberação de preços e o plano de estabilização, trouxeram modificações importantes para toda a cadeia agroindustrial do leite, aumentando os investimentos no setor. O novo cenário foi reforçado com a implementação do Plano Real em 1994, aumentando o mercado consumidor e viabilizando aumentos de produção.
Uma das mais significativas mudanças ocorrida no mercado de lácteos trata da importância assumida pelos supermercados como pontos de distribuição, a partir principalmente da entrada do leite longa vida (ou UHT) no mercado, que veio atender às exigências de comodidade e conveniência do consumidor, cada vez mais consciente de seus direitos.
A demanda por leite e derivados pode ser aumentada por diversos fatores, entre eles o aumento de população, crescimento de renda, redução de preços relativos, mormente, de produtos concorrentes ou substitutos, e mudanças nos hábitos alimentares. Na realidade a demanda é alterada por diversos fatores que podem ocorrer simultaneamente.
A queda da renda da população nos últimos 25 anos pode ser mostrada tomando os valores do salário mínimo como referência. Na média, o salário mínimo reduziu-se cerca de R$ 9,00 ao ano a preços de dezembro de 2001. Isto representa uma perda real de poder aquisitivo do consumidor com impactos relevantes no consumo de produtos lácteos, que se altera significativamente com as mudanças nos níveis de renda da população. Contudo, no início do Plano Real houve crescimento do salário mínimo representando maior potencial de compra e com fortes impactos na demanda por produtos lácteos, durante 1994 a 1997.
O aumento populacional configura um aumento de demanda por alimentos, incluindo o leite e seus derivados. O crescimento da população no período de 1960 a 1999 foi de 2,32% , muito aquém do crescimento da oferta de leite e derivados. Uma melhoria de renda proporcionada pelo aumento do salário mínimo a partir de 1994, ano inicial do Plano Real, proporcionou uma elevação de consumo de leite. Os dados são mostrados na Tabela 11. Após 1998, o consumo de leite se estabiliza ao redor de 130 litros/hab./ano.
Pode-se argumentar ainda que a demanda da indústria de transformação é dependente do consumidor final e do conjunto de produtos lácteos que ele consome. No caso brasileiro, segundo houve mudanças substanciais na demanda e no conjunto de produtos ofertados e consumidos. Destaca-se o crescimento do leite longa vida e o crescimento dos produtos de maior valor agregado como queijos, iogurtes e sobremesas. A Tabela 12 mostra as variações nas vendas e nos preços de produtos lácteos.

Tabela 11. Consumo de leite no Brasil, 1985/2000.
Ano
Consumo
(litros/habitante/ano)
Aumento (%)
1985
94
-
1990
107
12.15
1991
112
4.46
1992
108
-3.70
1993
107
-0.93
1994
113
5.30
1995
124
8.87
1996
135
8.15
1997
129
-4.65
1998
130
0.77
1999
130
0.00
2000
129
-0.78
Fonte: Banco de Dados Econômicos da Embrapa Gado de Leite.

Além da mudança no mix dos produtos ofertados e substancial redução de preços, ocorreu após o Plano Real a abertura econômica, que levou a uma elevação dos requerimentos de qualidade advindos da comparação entre produtos nacionais e importados, e maior conscientização do consumidor a respeito de saúde e segurança alimentar.

Tabela 12. Variações na venda e nos preços de derivados de leite (1996 – 1998).
Produto lácteo
Vendas (%)
Preços (%)
Leite asséptico
106
-11
Leite flavorizado
43
-8
Petit-suisse
35
-15
Creme de leite
27
-12
Sobremesas gelificadas
23
-6
Iogurte
19
-14
Leite condensado
18
-10
Leite em pó
9
-21
Doce de leite
8
-16
Fonte: Acnielsen (1998), citado por Martins (2001).

Destaca-se que a redução dos preços dos produtos lácteos representa a incorporação de parcelas da população no mercado e estímulo ao consumo daqueles que já participavam dele. Em outras palavras, representa, em termos agregados, um aumento de renda real para os consumidores. A Tabela 12 também mostra a mudança do conjunto  dos produtos lácteos consumidos pelos brasileiros, representando uma mudança de hábitos de consumo ao incorporar produtos de maior valor agregado, com graus de sofisticação maior e características de conveniência bastante peculiares.
Em resumo, os agentes que atuam na cadeia de lácteos devem promover modificações rápidas para se adequar aos requerimentos do mercado globalizado, inclusive com vistas a exportação . As mudanças mais importantes são a definição dos requerimentos de qualidade superior, aumento da oferta de produtos de maior valor agregado, racionalização da coleta por meio da granelização, concentração da indústria, requerimentos de escala e profissionalização da produção primária.
Em relação ao mercado externo, sabe-se que o Brasil é um tradicional importador de produtos laticínios, chegando a importar até 30% do leite consumido no País. Em média importou-se cerca de 10% da produção nacional nos últimos anos. A partir de 1995 observa-se uma clara tendência de redução nos gastos com importação de lácteos e simultaneamente uma ligeira evolução na receita com exportações, valor que chegou a representar quase um quarto do volume importado em 2001, conforme a Tabela 13. Considerando a falta de tradição do País neste mercado, estes são dados que apontam um novo caminho que pode, de certa forma, revolucionar o setor produtivo do leite nacional.
O potencial produtivo do setor e suas vantagens comparativas em relação a outros países produtores e tradicionalmente exportadores é muito grande e deverá ser trabalhado intensamente, tanto pelo Governo como pela iniciativa privada, a partir de então. A implementação da Portaria 56/99 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que regulamenta o Programa Nacional de Qualidade do Leite, deverá ser uma das primeiras iniciativas do Brasil visando ganhar a credibilidade dos principais e maiores centros importadores de derivados de leite no mundo.

Tabela 13. Exportações e Importações de Leite e Derivados pelo Brasil.
Ano
Exportações
(US$ 1.000 FOB)
Importações
(US$ 1.000 FOB)
1995
9.776
620.109
1996
24.983
523.276
1997
19.394
466.894
1998
25.817
518.969
1999
15.658
445.426
2000
24.974
378.620
2001
42.778
183.020
Fonte: ABIA – SECEX, disponível em www.abia.org.br

Coeficientes técnicos na produção de leite

Coeficientes técnicos são valores numéricos que expressam uma relação física entre a quantidade de insumo gasta para produzir uma certa quantidade de leite. Em geral, no cálculo dos coeficientes técnicos, tanto os insumos como o leite são quantificados considerando o período de um ano. Este é o tempo normalmente considerado para analisar os resultados técnicos e econômicos de uma empresa com a produção de leite estabilizada.

Exemplo
Suponhamos que os números abaixo foram anotados em uma fazenda para o período de um ano:
  • Produção total de leite: 547.500 litros.
  • Mão-de-obra usada nos serviços de rotina (trato e cuidados com o rebanho, ordenha, limpeza de instalações, máquinas e equipamentos, etc): três adultos diariamente (3 x 365 dias = 1.095 d.h.);
    d.h. significa um dia-homem ou um dia de serviço prestado por um trabalhador adulto.
  • Ração (concentrados) para 75 vacas em lactação: 246.375 Kg
  • Fertilizantes para a produção de 1.600 toneladas de silagem e para as forragens verdes:
sulfato de amônio
14.000 Kg
superfosfato simples
14.000 Kg
cloreto de potássio
3.600 Kg
calcário
40.000 Kg
Considerando apenas estes insumos a título de exemplo, têm-se os seguintes coeficientes técnicos:
  • Mão-de-obra de rotina (manejo do rebanho): 1.095 d.h./547.500 litros = 0,002 d.h./litro.
  • Sulfato de amônio: 14.000 Kg / 547.500 litros = 0,0256 Kg/litro.
  • Superfosfato simples: 14.000 Kg / 547.500 litros = 0,0226 Kg/litro.
  • Cloreto de potássio: 3.600 Kg / 547.500 litros = 0,0066 Kg/litro.
  • Calcário: 40.000 Kg / 547.500 litros = 0,0731 Kg/litro.

Os coeficientes técnicos podem ser expressos em diferentes unidades para melhor atender à comparação ou à análise que for feita. Por exemplo, desejando-se saber quanto de mão-de-obra de manejo é necessário para produzir 1.000 litros de leite, basta multiplicar por 1.000 o coeficiente para produzir um litro, ou seja, 0,002 d.h. x 1.000 = 2 d.h/1.000 litros.
Semelhante ao exemplo acima, pode-se calcular todos os coeficientes técnicos para os mais diversos e numerosos insumos utilizados no sistema de produção de leite objeto de análise. De posse da lista de todos os coeficientes técnicos, pode-se calcular e atualizar o custo de produção de leite por meio de planilhas de custo.
Não se deve confundir o coeficiente técnico, que é uma relação de insumo gasto para produzir certa quantidade de produto, com o índice ou indicador de produtividade. Neste caso a relação, também física, é da quantidade produzida por unidade de insumo. No exemplo acima, o índice de produtividade da mão-de-obra é de 500 litros por 1 d.h. Em outras palavras, o trabalho de 1 d.h. resulta na produção de 500 litros de leite, neste caso (500 litros/1 d.h.).




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