4 de jul. de 2015

Doenças e Inimigos das Abelhas


Existem vários organismos que podem causar problemas para as abelhas, tanto na fase de larva quanto na fase adulta. Algumas bactérias, fungos e vírus causam doenças que afetam principalmente as larvas. Já as abelhas adultas são freqüentemente atacadas por protozoários, ácaros e insetos.



A ocorrência e os danos provocados por cada organismo variam de acordo com a região e com o tipo de abelha. No Brasil, de modo geral, a ocorrência e os danos provocados por doenças e certas pragas são menores, principalmente em razão da maior resistência das abelhas africanizadas e das condições climáticas, que parecem ser menos favoráveis à disseminação das doenças.


Dessa forma, os apicultores não necessitam utilizar antibióticos ou pesticidas em suas colmeias, o que tem garantido a obtenção de produtos livres de resíduos químicos. Esse fato possibilita que nossos produtos sejam vistos nos mercados interno e externo como produtos mais saudáveis, isentos de contaminantes, o que favorece a comercialização.

Entretanto, para que que se continue a ter essa vantagem, os apicultores devem estar atentos à situação sanitária das colmeias, sabendo reconhecer as anormalidades que indicam a presença de doenças. Isso ajudará a evitar a disseminação de novas doenças no Brasil, que podem causar sérios prejuízos à apicultura, como é o caso da Cria Pútrida Americana.

Reconhecendo os principais sintomas de doenças, o apicultor poderá tomar medidas imediatas, como o isolamento das colmeias atacadas, enviar amostras a laboratórios para análise e diagnóstico precisos, comunicar associações, cooperativas ou outras instituições. Assim, estará contribuindo para evitar a contaminação de seus apiários e dos apiários de sua região.


Doenças das abelhas

Importância

A ocorrência de doenças nas colmeias pode acarretar prejuízos diretos pela diminuição da produtividade, uma vez que o aumento da mortalidade, tanto de crias como de abelhas adultas, leva a uma redução da população da colmeia com conseqüente redução da produção. Em casos mais graves, o apicultor poderá perder enxames, já que as abelhas africanizadas costumam abandonar as colmeias quando a população cai abaixo de 4 mil indivíduos e quando há muita cria morta.

Em países com alta incidência de doenças, os apicultores sofrem prejuízos em virtude do gasto adicional de utilização de antibióticos para o controle das doenças, além da contaminação dos produtos com resíduos de medicamentos, o que pode inviabilizar a sua comercialização, principalmente para o mercado externo.

Doenças de crias



Doenças em crias geralmente causam maiores prejuízos do que em abelhas adultas. Para que o apicultor possa reconhecer os sintomas das doenças é importante estar familiarizado com as características das diferentes fases do desenvolvimento das crias (vide item Morfologia e Biologia das Abelhas Apis mellifera) e com a aparência de um favo com crias saudáveis.



Observando a situação das crias durante as revisões



Uma das principais observações a serem feitas pelo apicultor durante as revisões é verificar como as crias estão distribuídas nos favos. Quando se observa que as áreas de crias apresentam poucas falhas (Fig. 36), é uma indicação de que a rainha está com um bom padrão de postura e que as larvas estão se desenvolvendo normalmente. Por outro lado, quadros com áreas de crias falhadas indicam que algum problema pode estar ocorrendo, como por exemplo:
  • A rainha pode estar velha e, conseqüentemente, sua postura está irregular.
  • Pode estar ocorrendo produção de zangões diplóides, em razão de cruzamentos consangüíneos. Nesse caso, as operárias costumam comer as crias, ficando a área de crias falhada.
  • Ocorrência de doenças. Nesse caso, as operárias passam a retirar as crias doentes, o que se chama "comportamento higiênico", e a área de crias apresenta-se com falhas.
O apicultor deve examinar cuidadosamente tanto as crias abertas como as operculadas. Deve verificar se a cor, a forma e a posição das crias estão normais. A aparência dos opérculos também é importante, pois opérculos furados e/ou afundados podem indicar ocorrência de doenças.



Figura 36. Favos com crias saudáveis.



Identificando doenças em crias

As principais doenças que afetam crias de abelhas são:
  • Cria Pútrida Européia
  • Cria Pútrida Americana
  • Cria Ensacada
  • Cria Giz

Cria Pútrida Européia (CPE)
Agente causador: bactéria Melissococus pluton. As larvas são infectadas quando comem alimento contaminado.

Ocorrência e danos: pode ocorrer em todo o território nacional, mas geralmente não causa sérios prejuízos.


Sintomas:
  • Favos com muitas falhas, opérculos perfurados (Fig. 37a).
  • A morte ocorre geralmente na fase de larva, antes que os alvéolos sejam operculados.
  • As larvas doentes encontram-se em posições anormais, podendo ficar contorcidas, nas paredes dos alvéolos (Fig. 37b).
  • Mudança de cor das larvas que passam de branco-pérola para amarelo até marrom (Fig. 37b).
  • Pode apresentar cheiro pútrido (de material em decomposição) ou não.
  • Quando as larvas morrem depois da operculação, aparecem opérculos escurecidos, afundados e perfurados.

Figura 37. Sintomas de Cria Pútrida Européia: área de crias com muitas falhas (a) e mudança de posição e coloração das larvas (b).


Controle:
  • Remoção dos quadros com cria doente.
  • Trocar rainha suscetível por outra mais tolerante.
  • Evitar uso de equipamentos contaminados quando manejar colmeias sadias.
Cria Pútrida Americana (CPA)

Agente causador: bactéria Paenibacillus larvae. As larvas são infectadas quando comem alimento contaminado.

Ocorrência e danos: no Brasil, foi recentemente detectada em colmeias no Rio Grande do Sul. A contaminação ocorreu porque os apicultores alimentaram as abelhas com mel e pólen importados, contaminados com a bactéria.  Essa doença pode provocar sérios prejuízos, pois seu controle é bastante difícil, já que a bactéria é resistente a antibióticos e pode permanecer no ambiente por muito tempo. Por isso, não se recomenda a importação de produtos apícolas ou rainhas de países que apresentem níveis altos de infestação.

Sintomas:
  • Favos falhados (Fig. 38a) com opérculos perfurados (Fig. 38b), escurecidos e afundados.
  • Morte na fase de pré-pupa ou pupa.
  • Larvas com mudança de cor, passando do branco para amarelo até marrom-escuro;
  • Cheiro pútrido.
  • As larvas mortas apresentam consistência viscosa, principalmente quando apresentam coloração marrom-escura. Para verificar isso, deve-se fazer o teste do palito que consiste em inserir um palito rugoso no alvéolo, esmagar a cria e puxar devagar, observando-se, então, a formação de um filamento viscoso (Fig. 39a).
  • Quando a morte ocorre na fase de pupa, observa-se geralmente a língua da pupa estendida de um lado para o outro do alvéolo.
  • Presença de escamas (restos da cria já seca e muito escura) coladas nas paredes do alvéolo e de difícil remoção (Fig. 39b).


Figura 38. Sintomas de Cria Pútrida Americana: favos falhados (a) e opérculos perfurados (b).







Figura 39. Sintomas de Cria Pútrida Americana: consistência viscosa da cria - teste do palito (a) e restos de crias mortas e ressecadas colados nas paredes do alvéolo (b).




Controle:

Não utilizar antibióticos para tratamento preventivo ou curativo, pois pode levar à resistência da bactéria e contaminar os produtos da colmeia, além de ser um gasto adicional para o apicultor. O tratamento preventivo pode ainda esconder os sintomas da doença.

Quando o apicultor suspeitar da ocorrência da CPA em seu apiário, deve tomar as seguintes medidas:

  • Marcar as colônias com sintomas de CPA.
  • Realizar anotações sobre as colônias afetadas e relatar a ocorrência para sua associação e autoridades competentes, tais como: instituições de ensino e pesquisa que trabalhem com Apicultura, Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), Delegacia Federal de Agricultura, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
  • Enviar amostras dos favos com sintomas para análise em laboratórios especializados no diagnóstico de doenças de abelhas.
  • Limpar equipamentos de manejo (luvas, formão, fumigador, etc.) e não utilizá-los nas colônias sadias;
  • Após comprovação da doença por meio do resultado da análise laboratorial, destruir as colônias afetadas; para isso, pode-se optar pela queima da colmeia completa ou, se o apicultor quiser preservar as caixas, deve matar as abelhas adultas e depois queimá-las juntamente com os favos. Para o reaproveitamento das caixas, elas devem ser esterilizadas;
  • A esterilização das caixas pode ser feita de duas maneiras: mergulhando as peças em parafina a 160ºC durante 10 minutos ou em solução de hipoclorito de Sódio a 0,5% durante 20 minutos.
Para evitar a disseminação dessa grave doença no Brasil, os apicultores devem estar bastante atentos para nunca utilizarem mel ou pólen importados para alimentação de suas abelhas no período de entressafra, pois esses produtos podem estar contaminados e, conseqüentemente, contaminarão as colmeias.



Esses produtos poderão ser vendidos a preços baixos, parecendo ser vantajoso utilizá-los para evitar a perda de enxames. Entretanto, isso poderá provocar sérios prejuízos no futuro, caso a doença seja introduzida e disseminada em nossa região.


Cria Ensacada

Agente causador: Vírus "Sac Brood Virus" (SBV).  No Brasil, entretanto, a doença tem como agente causador o pólen da planta barbatimão (Stryphnodendron sp.) e não o vírus. Desse modo, a doença passou a ser chamada Cria Ensacada Brasileira. 

Ocorrência e danos: em áreas onde ocorre a planta barbatimão. A doença tem ocasionado prejuízos em várias regiões, exceto nos estados do Sul do Brasil. Em alguns casos, pode provocar 100% de mortalidade de crias, chegando a destruir uma colônia forte em menos de dois meses (Message, 2002).


Sintomas:
  • Favos com falhas e opérculos geralmente perfurados.
  • A morte ocorre na fase de pré-pupa.
  • Não apresenta cheiro pútrido.
  • Coloração da cria: cinza, marrom ou cinza-escuro (Fig. 40).
  • Ocorre a formação de líquido entre a epiderme da larva e da pupa em formação.  Quando a cria doente é retirada do alvéolo com o auxílio de uma pinça, apresenta formato de saco (Fig. 40), ficando o líquido acumulado na parte inferior.


Figura 40. Pré-pupas com sintomas de Cria Ensacada


Controle:
  • Evitar a instalação de apiários em locais com incidência da planta barbatimão.
  • Utilizar alimentação artificial das colmeias na época de floração do barbatimão.
  • Alguns apicultores relatam que deixando de manejar a colmeia afetada, evita-se a perda do enxame. Segundo eles, o manejo estimula a atividade forrageira da colônia, o que intensifica a coleta do pólen tóxico.


Cria Giz



Agente causador: fungo Ascosphaera apis.

Ocorrência e danos: A incidência dessa doença no Brasil tem sido baixa, havendo relato de poucos casos nos Estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. Existe a possibilidade de ser introduzida por meio da alimentação das colmeias com pólen importado contaminado.

Sintomas:
  • Favos com falhas e opérculos geralmente perfurados.
  • A morte ocorre na fase de pré-pupa ou pupa.
  • Não apresenta cheiro pútrido.
  • A cria morta apresenta coloração branca ou cinza-escuro e aspecto mumificado (rígida e seca) (Fig. 41).
     


Figura 41. Crias com sintomas de Cria Giz.


Controle:
  • Como medida preventiva, recomenda-se não utilizar pólen importado ou das regiões do Brasil onde a doença foi detectada para alimentação das colmeias.
Doenças e parasitoses de abelhas adultas




Doenças em adultos são mais difíceis de ser diagnosticadas em campo porque muitas vezes apresentam sintomas similares. Desse modo, para a confirmação de doenças ou endoparasitoses, devem-se enviar amostras a laboratórios especializados, seguindo as recomendações indicadas no item Como enviar amostras de abelhas com sintomas de doença para análise em laboratório. 



O sintoma geral da ocorrência de doenças em abelhas adultas é a presença de abelhas mortas ou moribundas, rastejando na frente da colmeia. Entretanto, esses sintomas também ocorrem quando há intoxicação das abelhas por inseticidas.


Nosemose

Agente causador: protozoário Nosema apis.



Ocorrência e danos: No Brasil, ocorreu com certa freqüência até a década de 80 e, nos últimos anos, não tem sido detectada. O protozoário afeta principalmente o ventrículo (estômago da abelha) causando problemas na digestão dos alimentos e pode provocar disenteria. A doença diminui a longevidade das abelhas, causando um decréscimo na população e, conseqüentemente, na produtividade das colmeias.


Sintomas:

  • Abelhas com tremores e com dificuldade de locomoção. O intestino apresenta-se branco-leitoso, rompendo-se com facilidade.
  • Operárias campeiras mortas na frente do alvado. Em alguns casos, encontram-se fezes no alvado e nos favos.

Acariose



Agente causador: ácaro endoparasita Acarapis woodi


Ocorrência e danos: assim como a nosemose, a acariose foi mais freqüente até as décadas de 70-80, não sendo mais considerada problema nos apiários brasileiros. O ácaro se aloja nas traquéias torácicas, perfurando-as e alimentando-se da hemolinfa (sangue das abelhas). O ataque do ácaro pode diminuir a longevidade das abelhas e, conseqüentemente, reduzir a população da colmeia, provocando perdas na produção.

Sintomas:

  • Abelhas rastejando na frente da colmeia e no alvado, com as asas separadas, impossibilitadas de voar.

Como enviar amostras de abelhas com sintomas de doença para análise em laboratório



Amostras de crias: coletar um pedaço de favo contendo crias que apresentem sintomas de doença.  O favo deve ser envolto em papel absorvente como jornal. Não utilizar plástico ou outro material não-absorvente. Evitar o envio de favos com muito mel. Já a presença de pólen pode auxiliar na identificação da cria ensacada brasileira.


Amostras de abelhas adultas: coletar, no mínimo, 30 abelhas que se encontrem rastejando no alvado ou na frente da colmeia. As abelhas devem ser colocadas em caixas de fósforo ou qualquer outra caixa de madeira ou papelão.

As amostras devem ser devidamente embaladas em caixas dos correios ou similares e enviadas, preferencialmente, via sedex ou outra via rápida ao laboratório.

Juntamente com as amostras, é importante enviar informações sobre a localização do apiário, data de coleta, número de enxames afetados, características da região (clima, vegetação), uso de inseticidas nas proximidades do apiário, observações sobre os sintomas e danos.



Outros organismos que causam danos a crias e adultos



Ácaro Varroa destructor



Trata-se de um ácaro ectoparasita, de coloração marrom, que infesta tanto crias como abelhas adultas (Fig. 42). Reproduzem-se nas crias, geralmente em crias de zangões. Nos adultos, ficam aderidos principalmente na região torácica, próximos ao ponto de inserção das asas. Alimentam-se sugando a hemolinfa, podendo causar redução do peso e da longevidade das abelhas e deformações nas asas e pernas.


Esse ácaro, detectado no Brasil desde 1978, atualmente pode ser encontrado em praticamente todo o País. Felizmente, tem-se mantido em níveis populacionais baixos, em razão da maior tolerância das abelhas africanizadas, não causando prejuízos significativos à produção. Dessa forma, não se recomenda o uso de produtos químicos para o seu controle. As colônias que apresentarem infestações freqüentes do ácaro devem ter suas rainhas substituídas por outras provenientes de colônias mais resistentes.




Figura 42. Ácaro Varroa destructorVista dorsal (a), ventral (b), fêmea adulta e formas imaturas em pupa de operária (c).




Traças-da-cera

São insetos da ordem Lepidoptera, de duas espécies: Galleria mellonela (traça maior) e Achroia grisella (traça menor). Os adultos das duas espécies depositam ovos em pequenas frestas dos quadros e caixas, principalmente em colmeias fracas. As larvas alimentam-se da cera, construindo galerias nos favos onde depositam fios de seda. Os quadros ficam cobertos com grande quantidade de fios de seda e fezes (Fig 43). Algumas vezes, afetam diretamente a cria. Atacam também a cera armazenada.



O controle químico não é recomendado, uma vez que os produtos utilizados podem deixar resíduos na cera, os quais poderão ser transferidos para o mel. Desse modo, recomenda-se a adoção de medidas de manejo preventivas:


  • Manter sempre colmeias fortes no apiário, uma vez que as fracas são mais facilmente atacadas.
  • Reduzir o alvado das colmeias em épocas de entressafra e de frio.
  • Não deixar colmeias vazias (não habitadas) nem restos de cera no apiário.
  • Se encontrar foco de infestação nas colméias, matar as larvas e pupas e remover cera e própolis atacadas utilizando-se o formão, para evitar a disseminação da traça no apiário;
  • Trocar periodicamente os quadros com cera velha das colmeias.
  • Armazenar favos ou lâminas de cera em locais bem arejados, com claridade e, se possível, protegidos com tela, evitando armazenar favos velhos que são preferidos pelas traças. Temperaturas abaixo de 7ºC também ajudam no controle.
  • Se forem observadas colônias que freqüentemente apresentam alta infestação da traça, deve-se realizar a substituição de rainhas, visando aumentar a resistência.


Figura 43. Danos causados pela traça-da-cera Galleria mellonela na colmeia (a) e no favo (b).

F
ormigas e cupins

As formigas podem causar grandes prejuízos, principalmente quando atacam colmeias fracas. Podem consumir o alimento (mel e pólen) e crias, além de causarem grande desgaste e mortalidade das abelhas adultas na tentativa de defender a colônia. Em ataques severos, podem provocar o abandono da colmeia.

Os cupins danificam a madeira das caixas e cavaletes, diminuindo sua vida útil e favorecendo a entrada de outros inimigos naturais (Fig. 44).

Como medidas preventivas ao ataque de formigas e cupins, recomenda-se:

  • Não colocar as colmeias diretamente sobre o solo.
  • Destruir os ninhos de formigas e cupins encontrados nas imediações dos apiários.
  • Realizar capinas freqüentes no apiário, uma vez que a existência de plantas próximas às colmeias pode facilitar o acesso dos inimigos naturais.
  • Utilizar cavaletes com protetores contra formigas.



Figura 44. Danos causados por cupins em colmeia.



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