18 de ago. de 2015

Manejo Ambiental na Avicultura


Aspectos Agro e Zooecológicos

A cadeia de produção avícola nacional constituí-se no setor pecuário com maior índice de industrialização. As questões ambientais relacionadas a essa atividade tomam uma importância ainda maior, devido aos vários atores desta cadeia exigirem um desenvolvimento produtivo com qualidade nutricional e ambiental, principalmente, os consumidores.
O Sistema de produção profissional para frangos de corte coloniais é um sistema orientado para o mercado, portanto com qualidade suficiente para atender as exigências dos supermercados brasileiros e para exportação. É ideal para pequenas propriedades rurais que praticam agricultura familiar, incluindo assentamentos rurais e agrovilas. É desejável que os produtores pratiquem agricultura com produção de grãos, forragens, hortaliças e fruticultura e ao utilizar as sobras dessas produções, possam agregar valor a esses subprodutos e ao mesmo tempo melhorar as características diferenciais da carne do frango; tais como, sabor e pigmentação da pele.
O sistema de produção para frangos de corte coloniais está normatizado no Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento no ofício circular DOI/DIPOA no. 007/99, sobre o registro de produto Frango Caipira ou Colonial. Esse documento define que deve se utilizar linhagens específicas, de crescimento lento, para chegar no peso ideal de abate com a idade mínima de 85 dias e que os pintos devem ter acesso ao piquete a partir dos 28 dias de idade e que em nenhuma fase da vida sejam alimentados com rações contendo promotores de crescimento, nem subprodutos de origem animal, como farinhas de carne por exemplo.
Para a implantação de projetos de produção de frango colonial nos municípios brasileiros, as prefeituras municipais não necessitam fornecer recursos financeiros, mas sua equipe técnica deve estar apta a conceber os projetos de produção, encaminhá-los para financiamento bancário e organizar os produtores interessados no mesmo assunto em associações. Normalmente as prefeituras municipais efetuam convênios com empresas estaduais de pesquisa e extensão rural para realizar essa tarefa.
Os projetos devem em primeiro lugar efetuar uma análise de mercado para definir o tamanho do mesmo e o tipo de produto demandado, a periodicidade e o selo de qualidade mais adequado para a situação. Devem também identificar quais os produtores interessados e quais os pontos fortes e pontos fracos de cada produtor. Pontos fortes devem ser multiplicados e no caso dos pontos fracos os mesmos devem ser melhorados. Normalmente um dos pontos fracos é a dificuldade em trabalhar junto à associações, outro, é a falta de atuação profissional, o que pode ser mudado via capacitação. Existem várias instituições oficiais e privadas que proporcionam essa capacitação.
O passo seguinte diz respeito ao sistema de produção com as recomendações de instalações, raças, reprodução, manejo, biosseguridade, cuidados sanitários, alimentação.
O passo posterior, e igualmente importante, diz respeito às definições logísticas em relação as demandas do mercado. Nessa etapa o projeto deve prever a origem dos pintos, matrizes ou dos ovos. Adquirir os pintos no mercado, exigindo-se qualidade e regularidade, até que o volume demandado seja suficiente para compensar a montagem de granja de matrizes própria. O planejamento para montagem de granja de matrizes ou de incubatório, são projetos a parte, não necessários para o início do empreendimento.
Também é necessário identificar quem fornece a ração ou os ingredientes, bem como as misturas minerais e vitamínicas. Os macroingredientes das dietas podem ser produzidos na propriedade, como os grãos de cereais. Os demais ingredientes e aditivos devem ser adquiridos de fornecedores idôneos.

É necessário definir também quem procede o transporte. Normalmente uma terceira parte, tem se especializado nesse assunto, não necessitando investimentos em veículos, bastando apenas alugar os fretes.

Essas questões ambientais, as quais até um passado recente, não eram consideradas pelos produtores rurais no manejo de sua unidade produtiva, a partir desse momento, passam a ser parte integrante do manejo cotidiano. Com isso, antes da própria implantação da atividade, algumas exigências devem ser contempladas para que a criação não seja uma fonte geradora de poluição. Essas exigências compreendem: 

a-) realizar um estudo preciso das características zootécnicas, hídricas, edafo-climáticas, sociais e econômicas da criação;

b-) identificar os resíduos gerados pela atividade, isso possibilitará o perfeito manejo dos resíduos e dimensionamento do sistema de tratamento;

c-) determinar a capacidade suporte dos recursos naturais em receber os resíduos, com o estabelecimento de indicadores ambientais para monitorar a atividade;
d-); identificar outras cadeias produtivas que poderão consorciar-se com a avicultura; 
e-) detectar áreas ambientalmente sensíveis na propriedade e no seu entorno; f-) ter conhecimento das principais disfunções que os resíduos podem causar ao homem e animais com levantamento dos primeiros sintomas e socorros necessários;
g-) estabelecer um programa de gerenciamento ambiental considerando, não só, a unidade produtiva, mas também, a bacia hidrográfica que esta se insere. Quando ocorrer uma expansão da criação, estes parâmetros devem ser novamente considerados antes da execução desta expansão.

Sendo esse diagnóstico inicial positivo quanto as questões ambientais, ou seja, a implantação da atividade não irá causar danos ao meio ambiente. Um Plano de Gestão Ambiental deve ser delineado para ser aplicado após a implantação da atividade. Nesse deve-se caracterizar a severidade e probabilidade dos riscos ambientais e dispor de um plano de ação para o caso de ocorrer algum problema. No plano os seguintes tópicos devem ser considerados:
1. Caracterização dos residuos produzidos: os resíduos produzidos pela avicultura de corte compreendem a cama de aviário e as carcaças de animais mortos. A cama é constituída das excretas das aves, material absorvente (que pode ser, maravalha, serragem, sabugo de milho triturado, capins e restos de culturas), penas, restos de alimento e secreções Para um correto manejo deste resíduo é necessário que se conheça sua composição, o ideal é a realização de uma análise da cama para que o manejo seja feito com maior precisão. A quantidade de carcaças geradas irá depender da eficiência produtiva da criação, assim, quanto melhor o manejo, menores serão os índices de mortalidade e consequentemente uma menor quantidade desse resíduo será gerada.
2. Mitigação dos impactos ambientais: a melhor forma para não se causar a depreciação dos recursos naturais é através da aplicação de boas práticas de produção as quais comprendem atitudes que os produtores devem ter para atingir a sustentabilidade da produção.
3. Aproveitamento dos resíduos: a cama pode ser aproveitada como fonte de nutrientes para as culturas vegetais após sofrer uma compostagem ou biodigestão, sendo os produtos destes processos o composto ou biofertilizante, respectivamente. As carcaças devem sofrer um processo de tratamento, sendo o mais correto, ambientalmente, a compostagem, mas o composto oriundo destes resíduos só deve ser aproveitado para a adubação de culturas florestais e jardinagem devido a questões sanitárias. Independente do tipo de substrato que se tenha, sua aplicação no solo deve respeitar condições básicas para que não ocorra poluição ambiental ou coloque em risco a saúde humana e animal. Isto envolve um balanço de nutrientes onde as características dos solos, culturas e resíduos são consideradas em conjunto.
4. Tratamento dos resíduos: os dois sistemas utilizados para o tratamento dos resíduos avícolas são a compostagem e a biodigestão anaeróbia. Em ambos ocorre a geração de produtos que devem ser aproveitados a fim de viabilizar ambientalmente a criação. Os produtos são o composto e o biofertilizante, utilizados como fonte de nutrientes para as culturas, e o biogás utilizado como fonte de energia térmica para iluminação, aquecimento e movimentação de equipamentos e máquinas. A cama também pode gerar energia através de sua combustão, mas esta não é aconselhável pelos danos à atmosfera, pela emissão de gases e, devido ao custo dos incineradores.
5. segurança humana e ambiental: essas atitudes possibilitarão a manutenção da qualidade de vida do produtor e a saúde do meio ambiente e do rebanho. Inclui-se também a minimização da produção de espécies nocivas, como a criação de moscas,cascudinhos e roedores, ocasionada pelo mau manejo dos resíduos e entulhos.
6. Outras considerações: devido a promulgação da Instrução Normativa nº 15, de 17 de julho de 2001 (DOU de 18-7-01) que, no 2º artigo, proíbe em todo território nacional a produção e a comercialização de cama de aviário para a alimentação de ruminantes. Esse tema não será considerado.
7. Racionalização do uso de recursos naturais e insumos: sendo a avicultura altamente dependente de recursos naturais como água e solo e, insumos, principalmente, ração e energia elétrica. O uso racional destes irá proporcionar uma longevidade produtiva à criação e vantagens econômicas a serem refletidas no custo de produção.



Boas práticas de produção em avicultura 

Considerando os recursos naturais as BPPs compreendem:
  • Água;
A água para utilização na avicultura só poderá ser extraída de fontes sustentáveis e que a forneçam em condições ideais de qualidade e quantidade. Estas fontes devem estar protegidas de cargas poluidoras e do acesso de pessoas e animais. Se a água for proveniente do subsolo, deve-se compatibilizar o consumo com o potencial de recarga.
Deve-se solicitar permissão das autoridades competentes para a utilização da água da criação.

Análises prévias da disponibilidade e qualidade da água devem ser realizadas para manutenção da sustentabilidade do sistema ao longo do tempo. Após a implantação, realizar análises semestrais da qualidade físico-químico-biológica da água de dessedentação.

Estabelecer um correto sistema de drenagem na propriedade, principalmente, nas áreas adjacentes aos sistemas de armazenamento e tratamento de resíduos. A formação de charcos ou alagamentos atraem animais silvestres, podendo-se tornar focos de contaminação, promovem a perda de nutrientes por lixiviação e salinização do solo.
Otimizar o consumo de água através de programas de reutilização das águas pluviais, em usos como higienização de instalações.
  • Solo
Identificar os tipos de solos existentes na propriedade através do seu perfil e anáises de fertilidade anuais. Tais informações são essenciais para a elaboração do plano de uso dos resíduos como fertilizante.

Avaliar os riscos de poluição ambiental existentes para o aproveitamento dos resíduos no solo levando-se em conta o uso anterior, a aplicação de outros fertilizantes químicos ou orgânicos, as características do solo, o tipo de cultura a ser implantada e o impacto do cultivo em áreas adjacentes.

A aplicação de resíduos deve ser realizada seguindo-se um plano de manejo de nutrientes, considerando-se a quantidade de nutrientes no resíduo e no solo e a exigência da cultura.

Quando se utilizar fertilizantes químicos deve-se considerar o aporte de matéria orgânica nos cálculos das necessidades e freqüências de fertilização.

Devem ser otimizadas as formas de transporte e aplicação de resíduos no solo a fim de se evitar as perdas de nutrientes por escoamento superficial e percolação, com isto a freqüência, quantidade e época de aplicação devem ser consideradas em conjunto.

A distribuição dos resíduos no solo deve ser feita de forma uniforme pois a aplicação em camadas desiguais e espessas, onde as moscas podem efetuar a postura, podem desenvolver uma nova geração de moscas no campo, quando ocorrem chuvas freqüentes.
Os resíduos não devem ser aplicados quando existir probabilidade de chuvas nos próximos três dias e/ou não seja possível sua imediata incorporação ao solo.

Quando a área destinada ao aproveitamento estiver exposta ao recebimento de águas de zonas adjacentes, deve-se proceder análises do solo após as estações chuvosas para identificação de possíveis mudanças nas suas características.
Registrar o local e dimensões das áreas ocupadas com cada cultivo com seu respectivo manejo; quantidade, freqüência, forma de disposição e tipo de adubo utilizado e cronograma de aplicação de adubos e fertilizantes.

Quando se utilizar área de terceiros para o aproveitamento dos resíduos no solo, os mesmos diagnósticos e práticas devem ser considerados.
  • Ar
No manejos dos resíduos deve-se considerar a distribuição dos ventos dominantes no local, sendo que estes não se dirijam dos pontos de manipulação dos resíduos para áreas onde ocorram concentrações humanas.

Os resíduos deverão ser aplicados no solo quando os ventos estejam previstos para soprarem para longe de áreas sensíveis.

A aplicação de resíduos no solo não deve ser feita nos finais de semana.

Monitorar as emissões e concentrações de gases prejudiciais a saúde humana e animal presentes nas instalações animais, sistemas de armazenamento e tratamento e durante a aplicação no solo.



Balanço de nutrientes

O conceito de Balanço de Nutrientes considera que só deve ser aplicado ao solo as quantidades de nutrientes a serem extraídas pela cultura subseqüente, o excesso poderá causar danos ambientais ao solo, água e ar; fitotoxidade das culturas; mortalidade dos elementos da fauna; proliferação de insetos, vermes e roedores; desenvolvimento de doenças em humanos e animais e possível deterioração da qualidade dos produtos agrícolas produzidos a partir do solo que recebeu o resíduo. Um forma de diminuir os desequilíbrios entre a proporção de nutrientes nas camas e a capacidade de extração das plantas, é o correto manejo nutricional do plantel, reduzindo-se as quantidades de matéria orgânica e de nutrientes excretados, especialmente os micronutrientes.

Para diminuir o impacto ambiental do aproveitamento deve-se: evitar o excesso de nutrientes nas rações, principalmente, de N, P, Cu e Zn; tratar os resíduos para inativar os organismos patogênicos; limitar a quantidade de nutrientes à capacidade de extração das plantas em cada solo; analisar, periodicamente, o solo e as águas superficiais e subterrâneas para detectar sua eventual poluição e contaminação; acompanhar o desenvolvimento das plantas para detectar eventuais anomalias e utilizar espécies de plantas com alta e seletiva capacidade de extração de nutrientes, para a remoção daqueles já excedentes no solo.


Compostagem

O manejo da compostagem é feito colocando no piso revestido da composteira, 30 cm de uma fonte de carbono que também permite a aeração das carcaças, podendo ser: maravalha nova, palhada de qualquer cultura ou cama de aviário. Adicionar uma camada de carcaças, deixando um espaço de 15 cm entre as aves e as paredes, sem amontoar as aves. Rodear as carcaças com o material aerador até quase cobri-las. Acrescentar água na proporção de um terço do peso das aves (para cada 10 kg de aves acrescentar 3 litros de água). Cobrir com uma camada de 15 a 20cm de material aerador seco. Continuar colocando as carcaças rodeadas pelo material aerador, acrescentando água e cobrindo com nova camada de material aerador até atingir 1,50 m de altura. Fecha-se a pilha acrescentando uma camada espessa de material aerador seco e deixando fermentar, no caso de frangos de corte, por 10 dias. A fermentação diminui o volume das carcaças permitindo que se trabalhe até 600kg de carcaças em uma câmara de 2x2x2m, com altura da pilha de 1,50m. Após os 10 dias pode-se retirar o composto da câmara e refazer a pilha em camadas, acrescentando água, deixando outros 10 dias para a fermentação total dos resíduos. Após esse prazo o material pode ser utilizado como adubo ou ser mais uma vez utilizado como material aerador na formação das novas pilhas.


Biodigestão anaeróbia

A biodigestão anaeróbia é um processo de tratamento que ocorre dentro de biodigestores, sendo dependente de uma série de condições físicas, químicas e microbiológicas para ser realmente eficiente. Como a cama de aviário tem sua geração de forma periódica, o tipo de biodigestor mais adaptado a esta é o denominado Biodigestor Batelada.
O manejo cotidiando deste tipo de biodigestor é muito simples não demandando elevada mão de obra para realiza-lo, mas a qualidade deste manejo, entendida como o conhecimento que o produtor tem sobre o sistema e o processo, é fundamental para que o resíduo seja realmente tratado.

Segurança humana e ambiental 

Ao menos um integrante e/ou assessor técnico da propriedade deve estar de posse de título/certificado que o reconheça como apto à desenvolver a atividade avícola. Atividades técnicas que permeiem a avicultura e estejam além do conhecimento técnico dos integrantes do sistema devem ser equacionadas com o auxílio de profissionais reconhecidos.

O produtor deve considerar como pode ajudar a melhorar as condições ambientais no entorno de onde desenvolve sua atividade de maneira que beneficie a conservação dos recursos naturais e da biodiversidade.

O produtor deve ter conhecimento de toda legislação referente a sua atividade, principalmente, aquela relacionada a conservação dos recursos naturais. E dispor de uma lista de telefones úteis como laboratórios de análises, órgãos de pesquisa, ambientais, de extensão e fiscalização.

As áreas ao redor dos sistemas de tratamento e armazenamento de resíduos devem estar protegidas do trânsito de pessoas e animais, bem como, de eventuais acidentes que possam ocorrer, devendo possuir sinais/cartazes permanentes e legíveis nos quais estejam identificados seus potenciais riscos a saúde e ao meio ambiente.

A mão-de-obra deve utilizar vestimentas e equipamentos adequados ao manejo de resíduos. Sendo que as pessoas que manejam os sistemas de armazenamento e tratamento de resíduos devem passar por exames de saúde anuais.

A maquinaria utilizada no manejo dos resíduos deve ser mantida em boas condições considerando-se, principalmente, sua manutenção e calibração.

Antes do manejo dos resíduos os vizinhos das áreas próximas devem ser notificados da operação.

Manter documentação referente a utilização do uso de antibióticos e outros, catalogando o princípio ativo, forma de utilização, data, período, quantidade, motivo, pessoa que faz a aplicação, fonte de recomendação, respeito ao tempo de carência, se a diluição está sendo feita considerando-se o número de cabeças e, ainda, descarte dos frascos.

Os recursos humanos envolvidos na manipulação e aplicação de medicamentos e outros devem estar devidamente capacitados para isto.





Um comentário:

Anônimo disse...

muito imteresante este artigo.